quarta-feira, dezembro 23, 2009
quarta-feira, dezembro 16, 2009

Como eu não poderia deixar de opinar sobre o assunto, mandei esta cronica para o jornal Diário de Viamão, e ela passou a ilustrar uma das matérias que circulou sobre o assunto.
Ah, e vale lembrar: a cidade dos professores carrascos é a única em que os motoristas param na faixa de pedestres mesmo que sem semáforo, para alguém atravessar a rua.
Abaixo, o texto enviado ao jornal:
Vai ser um depoimento rápido, sucinto e indolor...
Sim, venho hoje me retratar como uma vítima do trabalho infantil.
Praticamente todo o ensino de nível fundamental estudei em escolas privadas... e religiosas. E como reza a lenda, todas as administrações religiosas são carrascas.
Qual a diferença entre uma escola pública e uma privada? Ora... esta é fácil!
A pública forma operários, e a privada, líderes.
Mas a grande verdade é esta: os irmãos e irmãs que me educaram, faziam com que meus colegas e eu limpássemos a sala de aula uma vez por mês.
Faziam com que varrêssemos a sala de aula todas as vezes que trabalhávamos com recortes de papel. E também faziam com que plantássemos árvores.
E que passássemos álcool no quadro negro, sujando nossas pequenas mãozinhas... ah, e uma vez tive que ajudar a pintar as linhas de uma quadra de basquete.
Assim vivi minha infância dos seis aos treze anos. E muitas marcas foram deixadas.
Não sou uma líder, muito menos rica e bem sucedida.
Mas sou traumatizada.
E é este trauma que faz com que eu seja grata às faxineiras do local onde trabalho, e que eu não me importe em passar um paninho na parte de traz de um computador quando elas não alcançam.
É este trauma que faz com que ensine aos meus filhos a não jogar papel no chão.
É este trauma que faz com que eu não piche as obras de arte da Bienal do Mercosul, e muito menos os muros dos vizinhos, já que eu sei o trabalho que tiveram para pintar.
É este trauma que me fez uma cidadão de bem, consciente de meus direitos, mas principalmente de meus deveres.
O início assusta, não é?
Mas meus senhores e minha senhora, mãe de “criança traumatizada”:
o Estatuto da Criança e do Adolescente tem duas partes, e não só uma.
A primeira fala dos direitos, e outra dos deveres, como em qualquer constituição... mas como qualquer bom brasileiro, a maioria não lê um livro por inteiro, ou decora a sinopse se considerando a pessoa mais instruída do mundo.
Aliás... chamem psicólogos para tratar quem doa seu trabalho voluntário para pintar escolas e depois tem que assistir delinquentes pichando.
Estes cidadãos sim, tem motivo para ficarem com traumas, sofrendo com este dano moral.
Obrigada aos carrascos da minha infância.
Hoje eu sei o que é educação... a que faz o caminho ser aberto para a vida.
Porqueabsurdo