sexta-feira, fevereiro 20, 2009



Gigante de águas que corta as fronteiras
E as selvas bravias do imenso sertão
Azul como o emblema da nossa bandeira
Banhando as divisas da nossa nação
Unindo os estados do Sul e do Norte
Goiás, Mato Grosso, São Paulo e Pará
Suas curvas fidalgas enfeitam seu porte
E as lindas paisagens do “azul Paraná“.

Suas águas serenas são lágrimas virgens
Vertidas da terra, que encanto lhe dá
No seio das matas, tiveste a origem
Que hoje se espelham no “azul Paraná“.

O canto das aves, o cheiro das flores
O grito de guerra do índio tupi
Embalam teu sono cantando louvores
E enquanto tu dormes, velamos por ti
Audazes bandeirantes em eras passadas
Buscaram esmeralda que em teu seio está
Com sangue escreveram teu nome na espada
Heróis que tombaram no “azul Paraná“.

Montanhas e serras atrás vai deixando
Pra onde caminhas ninguém saberá
Saudades, esperanças, contigo arrastando
No espelho das águas do “azul Paraná“.

CASCATINHA & INHANA
Vê Barros

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Era uma vez


Era uma vez que de miúda se fartou de ser, não queria ser apenas uma ocasião, muito menos uma repetição.
Não queria ser alternativa ao comum e ao mesmo tempo não queria ser uma simetria dos demais. Basta!
A vez queria crescer, não queria ser começo de história juvenil, não queria ser tudo aquilo que lhe diziam ser, queria arrancar um movimento reaccionário, revoltar-se contra a sua identidade, transformar-se...
Colocou um chapéuzinho na sua vogal, arrancou a dentes o seu zê e, no meio de bailaricos de verão, conquistou um bonito ésse, mais maduro...
Agora que era gente feita, que tinha crescido, queria aprender mais sobre a vida.
Não queria estar agarrada a um verbo, que a fazia mulher comprometida, que a agarrava a uma prisão.
Pois, apesar de promiscua, a sua irreverência e libertinagem fê-la mudar de ares, fugir de conjugações que a prendiam a amores eternos e enjaulados.
Fugiu!
Ao fugir, deixou para trás o seu altivo vê a chorar... Num caminho sem rumo, encontrou um éme que a deixou encantada.
Era a ele que se queria juntar.
Apesar de menina má que era, pretendia recompor a sua vida, agarrar-se ao éme, estático e austero... Porém, mais uma vez, se fartou de estar presa, não era mulher para estar presa, cada vez mais se mentalizava disso, não se podia agarrar a tudo o que mexia com o seu confuso e palpitante coração.
Farta de ser um conjunto de dias, que apesar de irregulares, a aborreciam, deixou mais uma paixão para trás.
Começava a gostar da sua vida alucinante, tornara-se uma mulher que procurava prazer carnal, pura e simplesmente prazer carnal, mas que ao mesmo tempo sentia prazer em despedaçar os corações das suas paixões momentâneas, essas letras que tanto a perseguiam à procura de fornicação selvagem e acabavam por se render ao seu charme de palavra bem feita.
Abandonou o chapelinho de jovem promiscua!
Abandonou o ésse que durante tanto tempo a acompanhou!
Abandonou o é que a lembrava dos seus tempos de criança!
Deitou fora a sua identidade e deixou-se encantar por um á matreiro, bonacheirão... Apenas deixou ficar o éme, um capricho, um favor...
Era agora um forte adjectivo.
Sentia-se satisfeita com a vida que levava, cru e duro adereço.
Sorria agora.
Era palavra forte, era alicerce usado para marcar posição, era feliz assim, vivendo a adjectivar grosseiramente palavras, palavrões e palavrinhas...
Tinha poder de classificar, de deitar abaixo...
Os anos passaram-se e continuava feliz, contudo algo estava mal.
Talvez cansara-se da monotonia do austero éme, ou da vida boémia do á garanhão, ou mesmo do tímido acento que acompanhava o na fanfarra.
Talvez estava farta de ser adjectivo.
Talvez estava farta de deitar abaixo outras palavras.
Talvez...
Olhava para trás e via o que tinha subido na vida.
Via sucesso. Mas nenhuma palavra ou acento conseguia retirá-la daquele histograma de depressões e melancolias... Porquê?
Queria agora voltar atrás e ser o que era... O início de uma história juvenil.
Porém, era muito tarde.
O fim da história aproximava-se.

O escritor cansou-se.

FIM

Rubrica Maltratada